quinta-feira, 25 de junho de 2020

Hipotético nono Pt. III

talvez você não devesse descansar
talvez você não quisesse se curar
talvez você não existisse
talvez sua mãe não fosse conhecer seu pai
talvez um outro dia

           Foi muito rápido
              
talvez se eu permanecesse no lugar
talvez se eu não tivesse ido trabalhar
talvez eu não existisse
talvez minha mãe não fosse conhecer meu pai
talvez seria nesse dia
talvez vivesse mais

           Estava bem longe

talvez os filhos não fossem nascer
talvez fosse pra isso acontecer
talvez se nada existisse
talvez se ninguém conhecer ninguém
Talvez se os carros não batessem 
talvez, talvez...

                      Não deu nem pra ver

Quem sabe um dia, mais um outro talvez
Só sei que agora estou aqui diante de você

A 60 UA de distância

domingo, 21 de junho de 2020

Hipotético nono Pt. II

Meu medo é de que no fim das contas 
tudo não passe de um engano
placas clamando por metanoia
sorrisos irônicos e mãos tampando os dentes perfeitos
dias de paz e de tensão
em que a tônica é forçar um pouco de sentido
atravessando esse vale quase como num ascese místico
dia sim, dia não
mas betelgeuse permanece lá
talvez já tenha explodido
e o que vemos é só uma fotografia
que aos poucos vai se amarelando
como nossa vida
que continua cobrando nossa parte
compras pra fazer
pulsão pela funcionária do mercado
sacos pra limpar
que trazem comida pra fazer
mãos para lavar
para cuidar de outras mãos
dia sim, dia não
minha garganta sempre arranha
condição dada pela rinite
que faz que eu não me esqueça 
que estou no campo do provável
a 60 UA de distância
até então não tive filhos
e você também não

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Biruta

Foi rápido, não esperava por isso. Nem lembro direito o que eu fazia, sei que estava em meu escritório, como sempre procrastinando horrores, mas exatamente o que eu fazia, não sei. Algumas notícias são dadas assim, de repente, você escuta e depois de certo ponto você é transportado para um episódio do Snoopy, onde o Charlie Brown está escutando a professora falar. Até ali entendemos, mas o que foi dito depois de determinadas palavras acaba perdendo o sentido. Aquela inflexão atordoa e catar os pedaços depois disso é piada sem graça. Ficamos o resto do tempo remando descontroladamente em um pequeno lago, nos afastando de uma margem e tocando a outra.

Lembrei de uma cena de Beleza Americana onde um saco plástico rodopia aos favores do vento: Há tanta beleza no mundo que chega a doer; disse o personagem, algo assim, não essas palavras, mas de fato ele tem razão, em toda sua potência as coisas nos engolem ou nos apequenam e essa intensidade no fim não tem medida certa, aliás, são os nossos resistores que são variáveis.

Naquele dia foi o vento, passados alguns instantes, fui minimizando os efeitos, mensurei os prejuízos, organizei o que podia, e providenciei os reparos, atravessei o lago e pisei na mesma terra em que ganhei e perdi de tudo e mesmo juntando os pedaços até hoje eu espero outro vento.

sábado, 11 de janeiro de 2020

Hipotético nono - Pt. I

Além da órbita
todo encontro se realiza?
não será como naquele dia
se lembra?
sua cara pintada
minha cara esquisita
e de tudo que aconteceria
uma aconteceu
podia ser diferente
sempre que vou ao mercado
eu me lembro do pente
que um de nós colocou no casaco
dias indomáveis
uma ideia venceu
e para os três
a consequência ficou
60 UA de distância
podíamos ter ido passear
atrás do hospital
como fazíamos
talvez esteja em orion
betelgeuese vai explodir
será que algum filho vai ver?
será que algum filho meu?
ou dela?
meu e dela?
ela espera ser arrebatada...

domingo, 22 de maio de 2011

Precisamos de músicas mais difíceis
Perguntas sem respostas
Diálogos constantemente interrompidos
Programas de TV mais realistas
Ler livros chatos
Assumir dúvidas de relacionamento
Da incerteza de um encontro
Reconhecer que não somos especiais
Que não se pode agradar todos e nem ficar constantemente sorrindo

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Meu eu expeniandis....

Insiste em bater para me avisar que nada está perdido

E que um dia esse desconsolo será nota de rodapé

Mas insisto em desfrutar da frustração que se avizinha

Meu peito aperta para querer te calar.

Bate, bate, bate me mostra que aquilo que sinto

É ínfima fração de um bem maior que nunca jaz

É que nela eu pus minha prece mesmo não fazendo sentido

Era nela que eu queria de alguma forma me afirmar

Bate velho no peito, e ecoa o mesmo sentido

Mas presta atenção que o céu e as estrelas estão sempre a girar

Então erga a cabeça agora e em prece estique um sorriso

E lembra que só há um destino, e esse mundo há de passar.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Sem título

Eu queria ter um carro

Eu tenho uma estrada mas não um carro

Tenho coisas pra levar e já deixei muitas no caminho

Podem até fazer falta algum dia, mas estão pelo caminho

Tenho tempo pra chegar mas não sei o quanto resta

Eu queria ter um carro

Pra poder ver muitas coisas que não vejo de onde estou

E que se eu for andando à pé acho que nunca verei

Mas por que sofrer por isso?

Já vivi querendo muito achando que tinha pouco

Mas na verdade o que eu tenho é que é suficiente

E as coisas que eu deixei que fiquem lá onde estão

Peço a Deus a consciência que aqui nada terei

O que aparece no caminho não é meu e de ninguém