sexta-feira, 28 de março de 2025

Amar puta é fácil.

 



Amar puta é fácil.


Não tem escapatória, vou ter que dar cobertura para Tiago mais uma vez. Me arrependi de ter levado ele ao puteiro, devia saber que a possibilidade dele se apaixonar por uma GP era grande. Pelo menos ele não está sacrificando o orçamento doméstico com uma amante e deixando Laura e as crianças em dificuldades. Tomara que mais alguém esteja lá, fico mal em acobertar a cretinice dele. Isso não é moralismo, mas porra, eu trabalho com Laura. Quem aguenta as reclamações sou eu! Vez e sempre ela fala da situação deles e me diz que eu sou um dos únicos amigos de confiança. Eu conheço o psicopata tem uns 20 anos, ele não vai mudar. Só conheci a Laura quando se casaram, mas o povo da casa dele falou que eu era gente boa, confiável. O escroto do velho Jaime botou lenha na fogueira. 


- Pode ficar tranquila, dos amigos de Tiago o único a se confiar é o Lopez, cara certinho...


Aquele filha da puta sabe que eu sempre estive junto quando seu filho aloprava por aí. Tem uma hora em que estamos tão afundados na merda que não tem mais o que fazer. Vou sair daqui, passo em casa, tomo um banho e vou me “divertir” dando cobertura ao babaca. Tomara que Lissandra vá desta vez. Onde já se viu levar uma puta pra um jantar? A cidade é pequena, o cara é mais conhecido do que o meme “que xou da xuxa é esse”. Mas, por que eu estou me incomodando tanto? A vida é dele, ele que a “estregue-a como quiser”.



Garfos e tapas.


Ainda bem que Lissandra vem, aliás, ela vai trazer a coitada. Tomara que seja rápido. Dando tudo certo, depois dessa pizza vamos todos sair no carro de Lissandra, e o babaca vai deixar cada um dos Judas em suas casas.


De repente Lissandra chega acompanhada por uma asiática esguia, cabelos lisos e longos, com pontas repicadas, lábios debochados e olhar vago. Não era vulgar, mas definitivamente não demonstrava recato ou sobriedade. Quando queria ela olhava e tirava o que quisesse do seu interlocutor, mas na maior parte do tempo parecia uma songamonga.  

- É, o babaca se deu bem, uma heroína tokusatsu… Falei enquanto elas sentavam. 

Ele riu, Lissandra perguntou qual a piada e a change mermaid disse: 

- Seu amigo assiste Jaspion! Já me acostumei com essa abordagem

- Ouvido bom!  Lissandra, essa é a nutróloga que você me falou? Disse o babaca.
- Isso mesmo, Sou a Patrícia Jo, e à propósito… 

- Você é de ascendência coreana! Eu disse interrompendo a garota, e continuei..
- Oi sou o Lopez, meu pai é Mexicano! Li em algum lugar que Jo, é assim mesmo que se pronuncia? É um sobrenome comum na Coreia.
Ela olhou de modo blasé, não disse nada e começou a comentar sobre o que via no cardápio.


A conversa se desenrola enquanto a pizza de marguerita com manjericões frescos não chega. A “Drª” Jo quem definiu o que se come e o que se bebe neste encontro. Sugeri um Sakê, ela retrucou.
- Errou dessa vez Lion Man, a bebida coreana é o Soju, Sakê é o Jaspion dá pra Anri.
Não tive como segurar a gargalhada, que se espalhou entre nós quatro. A conversa ficou mais tranquila e fluida depois disso. A pizza veio, e mais uma garrafa de vinho, sim, foram três, foi aberta. Apesar da Mermaid ter tomado só uma taça.


Em um determinado momento, o babaca já estava bêbado, perguntou se o serviço seria feito ali mesmo? Lissandra tentou desconversar, mas um babaca é sempre um babaca… 

- Oxe, eu tô bancando a brincadeira toda e chegou a hora da criança aqui ir pro parquinho. Levantou e segurou Patrícia pelo braço. A garota ficou desconfortável e pediu pra que ele esperasse que todos iriam juntos. Mas ele escalonou na babaquice 

- Tá pensando o quê, vamos logo, todo mundo sabe o que tá acontecendo aqui. 

Ela então joga um copo d’agua na cara do babaca, que por sua vez, dá um tapa na garota. Nem tivemos tempo de reagir e Osvaldo, o gerente, chega e leva o Tiago dizendo. 

- É a última vez que eu aceito você no estabelecimento…  Não conseguimos escutar o resto, mas a ladainha já era conhecida. O babaca só faz babaquices.


Lissandra acompanha Tiago e eu fico no bar com Patrícia Jo. O olhar de songamonga tinha sumido e agora a expressão era frágil.

- Deixe eu ir, tenho que sair daqui. Disse ela. 

- Espera um pouco, eu te levo em sua casa. Peço desculpas pelo que aconteceu, sabemos que ele é idiota, mas não imaginava que isso iria acontecer. 

Paguei a conta, e saí com Patrícia Jo. A change mermaid foi atingida pelo gozma.



Que filme está passando.


Confesso que ver aquela mulher daquele jeito me abalou. Ninguém gosta de violência gratuita, por mais que eu tenha vontade vez ou outra de encher a cara de um babaca de porrada. Havia um ar de resignação e fragilidade que me deixou desconcertado, andamos alguns metros sem dizer uma palavra. Até que ela falou. 

- Pode ir, isso já aconteceu antes, sei me virar, ainda bem que não moro nesse buraco. 

- Você está hospedada onde? Posso te levar lá? Perguntei, segurando o ombro dela, tentando fazer com que ela parasse de andar. 

Ela olhou pra mim com aquele olhar de quem consegue o que quer e disse: 

- Quero beber alguma coisa forte, já que hoje eu estou de folga. Enquanto segurou meu antebraço apertando-o levemente. Hesitei um pouco e ela percebeu, então eu disse: -

 Não sei se beber é a saída, até mesmo porque eu não conseguiria beber mais, o Lion Man parou de beber tem alguns anos, ele só bebe quando está em enrascadas ou em situações especiais. Mas, podemos ver um filme, não sei se percebeu mas estamos parados na entrada do cinema, acho que pode fazer bem. Quem sabe o filme é um drama, e com isso teremos uma boa desculpa pra chorar pra caralho, ou quem sabe uma boa comédia que nos fará chorar de tanto rir? 

Ela sorriu de um modo diferente, e me puxou pelo braço até o guichê.


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Na sala de projeção descobrimos que estava passando Sonic 3, Quando sentamos, ela disse.
- Perfeito um coroa que curte Tokusatsu e uma jovem adulta atormentada pelas séries japonesas assistindo Sonic 3

Rimos um pouco e começamos a assistir o filme, que já estava passando há uns 20 minutos. Durante o filme, falamos pouco, ela reagiu em algumas cenas, afinal uma jovem oriental deve ter jogado o Sonic em algum momento, em duas cenas fomos surpreendidos, quando o Shadow e o Sonic entraram em um modo “Super Saiajin” e ficaram brilhantes, algumas crianças que estavam assistindo o filme, começaram a gritar! O mesmo aconteceu na cena pós-créditos.Sim, era a última sessão das crianças, o filme começou umas 20h e estávamos no restaurante desde as 18:30. 

- Fazia tempo que não ia a um cinema, o filme foi e não foi um drama, foi e não foi comédia, mas sei que rimos e choramos um pouco… Ela disse enquanto caminhávamos. 
Jo segurou meu braço e se encostou em mim. Paramos e nos beijamos na porta do cinema.


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Passamos a noite no hotel onde ela estava hospedada. De madrugada levantei, tomei um banho e deixei um dinheiro no criado mudo. Quando estava abrindo a porta  escutei: 

- Pra você eu valho 300 reais… Virei super constrangido, e disse que era o valor corrente praticado na cidade. Ela disse:
- Acho que o babaca é você. A noite depois do cinema foi perfeita, saí, rimos com e como crianças, me diverti com um cara legal, mas parece que ele também é babaca.  

Voltei, pedi desculpas, mas não sabia exatamente que ela tinha realmente se divertido. Ela olhou pra mim com o olhar frágil e disse que tudo bem. Mas que eu ficasse com o dinheiro. Falou ainda que o surpreendente não foi o tapa, mas o quanto ela se sentiu bem comigo no cinema. Por fim disse.
- Não estou te julgando, mas acho que você nunca se envolveu a sério com ninguém. Você parece ser uma boa pessoa, só preste atenção, você sempre hesita quando vai falar, o que é um amor, mas aprenda a se conectar.
Antes de sair, trocamos nossos números, e nunca mais falei com Patrícia Jo.


Olhando Stories


- Lopez, para de olhar o celular, Disse Laura. Temos que entregar esses relatórios até hoje a tarde, anda aí. 

Tomei um susto, já eram 10h da manhã e eu não havia ligado o computador. Ela colocou o rosto no meu ombro e viu a tela do meu celular. 

- Hi. você também tá fazendo regime! Tem umas semanas que Tiago disse que ia a essa nutróloga. Ele também tem ela nos contatos. Mas vou dizer uma coisa, ela não está com nada, vocês estão cada vez maiores. 

Desconversei, concordando que fiz uma consulta com a Drª Jo. Laura nem desconfiava do acontecido. Continuei olhando e uma coisa me intrigou. Vi os stories da Mermaid umas três vezes desde que trocamos os nossos números, só que ela estava sempre olhando os meus… acho que ela olha os de todos, deve ser parte do ofício. Fechei o aplicativo e iniciei os trabalhos daquela quarta feira quente. 


Salvador é um inferno em qualquer dia do ano! Minhas férias começam no sábado e eu não tinha roteiro previsto. Queria um local mais fresco, só não sabia onde iria encontrar já que a grana curta não ia deixar que eu saísse da Bahia nas minhas férias. Tenho que decidir logo, sexta-feira mesmo eu posso picar a mula e deixar esse inferno e esse bando de demônios que me atormentam o ano todo. E se eu viajar logo fico livre do babaca. Ele  ainda teve a cara de pau de tentar marcar outro encontro com uma GP e me chamar como álibi. Eu disse pra ele falar pra Laura que o pai dele o chamou pra sair, mas o traste retrucou: 

- O véio Jaime na rua? Hahahaha, ninguém engole isso, e se ele sair, todos sabem que vai ser loucura. O véio tem uma reputação. 

Ele tem um ponto, Jaime é o sujeito mais porra louca que eu conheço. Vou ligar pra Lissandra e dizer que dessa vez eu não vou.


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Em casa coloquei um disco pra rodar: …tomara que a chuva caia logo pra molhar você… cantava Lazzo enquanto eu olhava fotos de paisagem que Jo colocou nos stories, até que uma mensagem explodiu na tela.  - Finalmente passou a acompanhar meus stories.  Não acreditei, tentei escrever alguma coisa, mas não saia porra nenhuma. Outra mensagem: - Humm, imagino que vc está em um dos seus hiatos comunicativos, engraçado, vc escreve como fala, aliás, não escreve nada, kkkk. Consegui digitar uma frase e apertei o send. “Oi sumida! Tudo bem?” Ela nem visualizou a mensagem e eu recebo um pedido para uma mensagem de vídeo. Atendi e escutei. - Imaginei que você fosse demorar um minuto para atender, até que você foi rápido, disse Jo enquanto sorria, me olhando através da chamada. - Tem assistido muitos filmes? Emendou perguntando. - Alguns, eu respondi. - Quero ver o novo Capitão América, semana passada vi o Auto da Compadecida 2… e sem que eu conseguisse terminar a frase ela disse. Tchau, vou trabalhar e desligou. 

Vi o resto das fotos e percebi que ela estava em Vitória da Conquista, pensei, lá é frio.


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Durante o resto da semana ficamos olhando e curtindo stories. Trocando mensagens fazendo um intertexto entre Lion Man e Changeman. Até que eu perguntei como ela estava.

- Reflexiva, às vezes eu penso no fato do Shadow ter ficado 50 anos preso. 

- É mais ele tinha seus motivos para se submeter, acho que por Maria aquilo valeu a pena. 

- Estamos falando sobre filmes infantis e tendo uma conversa “profunda”kkkkk. 

- É, cinema serve pra isso! ;)

- Vou te perguntar uma coisa de adultos, ela disse. 

- Você trabalha em que? 

- Sou funcionário público estadual, trabalho no tribunal eleitoral. 

- Ah! Pensei que você fosse professor, Sei lá, essa aproximação com desenhos animados, séries japonesas… Levar uma “acompanhante” para ver sonic 3…

- …

- Já sei, hiato comunicacional…

- Naquele dia quem te acompanhou fui eu, já se esqueceu?

- Não, não esqueci de nada desde de que saímos do restaurante.

- …

- Tchau, termina sua mensagem e deixa aí. Vou trabalhar.

-  estou pensando em passar as férias em um lugar frio, ouvi dizer que conquista é.

-  estou pensando em passar as férias em um lugar frio, ouvi dizer que conqu

-  estou pensando em passar as férias em um lugar frio, ouvi dizer qu

-  estou pensando em passar as férias em um lugar frio, ouvi diz

-  estou pensando em passar as férias em um lugar frio, ou

-  estou pensando em passar as férias em um lugar frio. Tchau!


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Sábado à tardinha Jo recebe uma mensagem.
- Não conheço nada aqui. Vc pode me ajudar?
- Aqui onde? Tá pensando que eu estou em Ondina?

- Com certeza não, mas parece que estou na Av. Ulisses Guimarães…
- Tu tá em conquista!!! Espere aí, a rodoviária é perto de onde estou.



Suíça Baiana


Realmente faz um frio da porra em conquista. Tudo bem que estamos em agosto, mas tá muito frio! Fiquei alguns minutos em pé, próximo a um poste de ferro, o vento frio estava castigando a ponta do meu nariz, e eu escutei. - Lion Man!!! Jo se jogou em minhas costas e disse. Poucas pessoas conseguem fazer que eu seja impulsiva!  Bem vindo a um clube pequeno e restrito! Disse ela me abraçando. Eu disse. - Não vamos medir impulsividade, desabei de Salvador até aqui sem convite nenhum. Acho que isso me coloca em vantagem no pódio dos impulsivos. - Ela gargalhou e disse. Venha, vamos tomar um café. 


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Quando chegamos no café sentamos e tava tocando uma música da Marisa Monte: ...Ô chuva vem me dizer / Se posso ir lá em cima prá derramar você… e por cima eu cantei, … se posso ir lá em cima fazer lama a você… Ela gargalhou alto. - Seu maluco, não é fazer lama! O certo é pra derramar você, disse rindo. 

- Verdade? Acho que cantei errado essa música desde quando foi lançada. Mas imagina a poeira dizendo pra chuva que vai até ela e fazer lama… é uma imagem poderosa!

- Sei… é com sair de Salvador, subir a serra do Marçal e vir pra conquista. Disse isso pegando em minha mão. 

- Pra você ver que eu sou impulsivo.


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Ficamos algumas horas conversando sobre tudo, das pessoas que entravam e saíam, da cara entediada do servente, de como o caixa parecia estar na fissura, Qualquer coisa virava piada. Chegamos a conclusão que estávamos no Siri Cascudo sendo atendidos pelo Lula Molusco enquanto o caixa alucinado era o Sirigueijo, só faltava um jovem esperançoso e ingênuo para ser o Bob Esponja, quando de repente uma garota com um sorriso estranho e olhos esbugalhados sai da cozinha do estabelecimento. Foi a conta de explodirmos gargalhando! Foi tão alto que chamou atenção de algumas pessoas. Me dirigi ao caixa para pagar a conta, mas fui impedido. - Ei. você é meu convidado, este café é por minha conta, afinal, acho que sou responsável pela sua impulsividade. De songamonga ela não tem nada, pensei enquanto observava a contração de suas coxas quando ela ficou na ponta dos pés para passar o cartão. Ela se virou e disse: - Venha vou te levar aonde você vai ficar hoje.


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Chegamos ao seu apartamento. Pequeno e levemente desorganizado, as paredes eram de um azul bem escuro, luzes indiretas clareiam pontos específicos, um balcão/cozinha, uma mesa com um notebook, vários livros abertos e espalhados  e um pequeno buda na entrada do quarto. Era a única coisa que remetia à sua descendência coreana. Caminhando ela disse:

- Você fica aqui hoje. Amanhã vai procurar um lugar. Não posso receber ninguém em casa por muito tempo, não é pelo motivo que está imaginando. Esse é o meu refúgio e eu não trabalho aqui na cidade, além disso,meu pai chega amanhã. 

Aquela conversa e o tom que ela impôs foi desconcertante por algum motivo, ela foi direta, não usou vaselina, entrou seco… não foi rudeza, pareceu que estava delimitando fronteiras. - Tudo bem, agradeço pela guarida. Ela perguntou quanto tempo eu pretendia ficar na cidade. Disse que estava de férias e não havia planos para nada. Senti mais uma mudança de tom, de repente o ar blasé voltou.


Fiquei sem entender por alguns momentos, mas enquanto eu tomava banho me ocorreu que podia ter feito uma besteira. Eu havia invadido a vida de uma garota de programa, cheguei sem avisar e fui trazido para seu local pessoal, sua casa, seu refúgio. Realmente é tudo muito rápido e estranho. Não nos tocamos, conversamos um pouco e ela foi dormir. Disse que eu ficasse à vontade. Ela se recolheu e eu fiquei procurando entender quem realmente era Patrícia Jo. Livros de nutrição em uma mesa, um pequeno buda iluminado por uma luminária, um espelho grande em uma parede, alguns romances típicos de pessoas da idade dela (Senhor dos Anéis, Percy Jackson, e congêneres). Não havia fotografias, não tinha clichê. 


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No outro dia procurei um hotel decente e barato. Ficava relativamente perto do apartamento dela. Me instalei, almocei e andei um pouco para conhecer a cidade. Às 16h recebo uma mensagem. - Oi vou chegar daqui a uma hora. Me mande sua localização. Assim eu fiz. Nos encontramos no hotel e fomos jantar.  - Olha, ela disse: Sabe aquela sensação de elefante branco, acho que fomos longe demais… Antes dela terminar, eu disse:

 - Ok, eu sei o que você faz, te conheço como Patrícia Jo, Nutróloga/acompanhante. Te levei ao cinema, tivemos uma noite maravilhosa que eu consegui estragar com minha estupidez. Você só sabe que eu sou o Lopez, filho de um mexicano com uma preta da liberdade e que eu trabalho na justiça eleitoral. Acho que o mais importante é que quando estamos juntos, mesmo que por rede social, ou comunicador instantâneo nós nos sentimos bem, nos divertimos, não temos a “necessidade” de jogar uma carga sobre o outro. Tá bem que não nos conhecemos tão bem, mas que porra! Não tem em lugar nenhum escrito que não podemos nos divertir e descobrir o que existe nessa relação. Se a gente virar amigos, massa! Se for cada um pro seu lado sem motivo, vai ser uma merda, mas se a gente ficar bem, como naquele dia no cinema, ou no café, o que mais vai importar?

- Eu tenho relacionamentos como qualquer pessoa. Disse Jo. Saí de um namoro abusivo. Nunca escondi de ninguém que sou prostituta, ele não se importou de início, mas com o tempo começou com imposições. Está tudo muito recente, não sei se devo me envolver.

Estávamos sentados lado a lado, ela com a cabeça inclinada para frente, curvei-me em direção ao seu rosto e disse.

- Tem mais alguém aqui? Eu estou cobrando alguma coisa? Estou aqui, mas dependo de um motivo para ficar. Quero muito passar um tempo contigo.

Levantei o meu corpo e ela se deitou no meu colo. Ficamos ali um tempo, o frio passando pelo meu nariz, encolhendo minhas bolas e esmagando meus dedos. Mas eu permaneci ali o tempo que foi necessário. Fiquei em Conquista por 20 dias.


L de Laura


Nos dez dias restantes de minhas férias eu fui até Barreiras. Existem algumas vagas disponíveis por lá e outras que irão surgir ano que vem, como quero sair de Salvador, resolvi dar uma passada por lá. Pensei em ir pro sul da Bahia. Ilhéus e Porto Seguro são opções, mas gostei do que eu vi em Barreiras, não é uma cidade grande, apesar de quente e seca, o local é mais tranquilo. No fim das férias voltei pra Salvador e ao navio negreiro.


Almocei na casa do babaca, Laura estava desesperada, trabalhou o período todo sozinha. As duas filhas doentes, e o animal do Tiago só fazia o que queria. Lissandra soube que eu fui até Conquista. Ela conhece Jo tem um bom tempo, a irmã dela foi colega de Jo na UNEB e elas passaram alguns dias na Coreia quando se formaram, isso tem uns 7 anos. Ela perguntou se eu iria falar com Tiago sobre o meu envolvimento com Jo, eu disse que ele se fodesse, não devia nada a ele. O irônico é que eu só conheci Jo por conta daquele filho de uma égua. Mas a maior ironia ainda vai acontecer.


Os meses se seguiam. Jo aparecia de quinze em quinze dias, eu ia nos intervalos da vinda dela de modo que todo final de semana estávamos juntos. Claro, acredito que ela vinha aqui com alguma frequência, afinal seu trabalho exige alguns deslocamentos. Mas combinamos que alguns detalhes poderiam permanecer desconhecidos. 


Uma vez, eu resolvi fazer uma surpresa, fui um dia antes do esperado. Como tinha a chave entrei no apê. Resolvi olhar o notebook. Entre fotos e vídeos, vi um em particular que não deveria ter visto. A visão de um cara comendo sua namorada não é das mais confortáveis, ainda mais quando o sujeito tem um pau maior que seu braço. Ela nunca gemeu daquele jeito comigo. Fiquei tão nervoso, que só abaixei a tampa do notebook e retornei para salvador no mesmo instante.


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No outro dia, recebi uma mensagem. - Você viu né?  Perguntei por qual motivo ela guardava isso. Ela respondeu alguma coisa que até hoje não sei dizer o que foi. Minha cabeça estava mais comparando o tamanho dos nossos cacetes. Tentei contemporizar, mas fui confrontado uma uma acusação de invasão de privacidade.Eu não tinha o que dizer e ela não tinha que se explicar. Lembra que eu fui o cara que disse que o que só importava era como nos sentíamos juntos? Palavras bonitas não valem nada contra um caralho de 23 centímetros. Resolvemos dar um tempo.


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Se Deus existe eu não sei,  mas o diabo…ah, que sujeitinho ardiloso. Durante o hiato sensorial entre Jo e eu, Laura estava puta da vida com o Babaca. Sabe uma pessoa que está tão insatisfeita com o casamento que qualquer boa noite bem dito você consegue levar pra cama? Então, Laura tava desse jeito. Eu não a culpo nem julgo. O casamento dela era de araque. Uma vez ela quis se separar, só que acabou engravidando das gêmeas. Agora as meninas têm 6 anos, e o babaca, enfim, é sempre babaca. 


Ela deve ter quase quarenta, é bonita, não linda, ainda tem uma vicejo da juventude, um pouco cheinha. Os cabelos que foram castanhos escuros, estavam com uma cor esquisita, acho que de tanto pintar. Sempre usando um tailleur apertado nos quadris e nos seios. Pode parecer que eu a esteja depreciando, mas não. Ela é bonita do seu jeito, só está sofrendo as consequências de seu casamento com um babaca. 


Um fim de tarde ela sem avisar coloca novamente seu rosto perto do meu e pergunta o que estou vendo no celular. Seu hálito de café aqueceu meu nariz e suas bochechas tocaram as minhas. Ficamos conversando nessa posição por um tempo, rostos se roçando, não colados, perdigotos se encontrando, sentia seu cílios passando em minha pele quando ela piscava. Ninguém saiu dessa posição. Até que Almeida passou na porta nos chamando pra fechar a sala. Enquanto saíamos, eu observava sua bunda e só pensava. O babaca merece que eu coma sua senhora.


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No outro dia, não pestanejei, na primeira oportunidade estimulei o contato corporal, não a tocava, mas ficava perto o suficiente para alguns esbarrões. Ficamos nessa tensão o dia todo. No fim do dia, a chamei, mostrei a ela algum meme idiota, o fato é que dessa vez ela se projetou em mim, colocando seu peso nas minhas costas e seu queixo apoiado em meu ombro.Eu só virei e a beijei. Fomos direto para minha casa. Transa rápida, ela tinha que chegar cedo em casa. E essa foi nossa rotina durante quinze longos dias.


Isso é amor.


Eu pensava na Jo, é claro. A sensação era de equivalência, se ela transava com outros, agora eu transo com outra. Equação imbecíl, mas satisfatória. Sempre levei a vida no atropelo. Mainha falava que essa impulsividade e desconexão iriam funcionar até um ponto. Mas acho que no fundo a gente só reage mesmo. Caramba! Eu prometi pra ela que estava tudo bem. Amar puta não é fácil. Não sou desses caras que não dizem que amam, eu digo se estou, e estou amando Jo. Sinto falta dela. E agora tem esse lance com a Laura. Que doideira! Tem hora que parece que vai acontecer um encaixe mais emocional, mas ela dá um corte seco no sentimentalismo e investe pesado no sexo. Caramba que mulher! Sabe o que quer e o que faz. Quem olha nem imagina como ela é feroz. Será que eles estavam transando? A gana dela na cama…será que é tesão acumulado? 

Putz… entrei em um bolo doido. Fico pensando quais motivos que o babaca tem pra zuar esse casamento. Tudo bem que vez ou outra numa relação alguém dá uma escapada, mas porra, Laura não merece isso. Ela tá cheinha? Sim? Mas, a mulher dá um duro danado, cuida das meninas e o babaca só torrando o dinheiro que os pais dão pra ele. O cara parou no tempo, um coroa com 16 anos.Também tô errado nessa história, mas não me arrependo. Uma coisa eu sei, temos que parar com essa merda e eu preciso me entender com Jo. Ontem mandei um bom dia pra ela. Não foi uma resposta das mais animadas, notei que ela parou com os stories, ou pode ter me bloqueado. Normal, eu passei 15 dias sem dizer um a e de uma ora pra outra quero que as coisas voltem ao normal.


Mainha tá sempre certa. Tenho que tomar jeito. Já afastei muitas pessoas que valeriam a pena, o problema é que eu me cerco de pessoas que não acrescentam em nada. Mainha dizia que eu não era qualquer um. Toda mãe fala isso. Pras nossas mães nós somos anjos, não tem nada que depois de uma boa peia, fique sem perdão. Mas Jo não é minha mãe. Amanhã vou resolver logo com a Laura. Uma coisa de cada vez. Depois vou procurar a Jo.


Peguei o celular antes de tomar um banho pra dormir. Vi uma mensagem de Laura, quando abri era uma fotinha desinibida. Ela tava pelada e escreveu. Antes… Daqui a uns dias vc vai ver o depois. Como é que eu consigo botar um ponto final nisso? Ela disse que começou a malhar. Fez questão de dizer que eu não tenho nada a ver com isso, mas que essa “brincadeira” estava fazendo com que ela procurasse se cuidar. Acho que ela vai terminar com o babaca. Bem feito pra ele. 


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Cheguei ao escritório e chamei Laura e bati a real. Ela disse que tudo bem, e que ela não iria mais longe com o Tiago, e que por mais que essa aventura fosse boa, ela tinha que fazer tudo certo. Estava procurando o melhor momento pra pedir o divórcio. Ainda disse que se eu quisesse poderíamos ficar juntos depois. Achei a ideia ótima, menos o lance de continuar. Falei que precisávamos conversar sério. Eu tinha resolvido contar a ela de Jo. Contar tudo mesmo. Eu sabia que ela já estava ciente que o babaca ficava com acompanhantes, mas não sei se ela sabe que fui eu quem aconselhou ele a fazer isso. 


Mandei uma mensagem pra Jo. - Olha, ainda tô com a chave do apê. Mas eu realmente ainda vou poder entrar? Tem umas duas horas que ela visualizou. Tomara que ela se abra pra uma conversa. Cansei de invadir. No fim do dia ela ainda não tinha visto a mensagem


Uns dias depois recebi uma mensagem de Lissandra querendo falar comigo urgente. Imediatamente liguei.

- Fala Drinha, tô saindo do trabalho.

- Precisamos conversar, é sério! O Tiago comentou que viu Laura brigando com Maitê e ficou curioso. Ele disse que quando foi levar as meninas pra escola perguntou pra Maitê o que estava acontecendo. A menina ficou nervosa e disse que não podia falar pra ninguém. Ele perguntou se Maya sabia? Maya estava mais tranquila e disse que não soube de nada. O que é que tá acontecendo lá?

- Drinha minha linda, eu não sei de nada, mas posso tentar ver amanhã com Laura. Não esquenta não, não deve ser nada demais. Tchau. Desliguei o celular.

Tem alguma coisa acontecendo, Lissandra pega tudo no ar. Também, ela é escrivã da civil, sabe muito bem fazer a leitura das situações. Sabe de uma? Vou conversar com Laura agora.

- Laura, quero te ver. Tá acontecendo alguma coisa por aí?
- Está sim, conversamos amanhã.

- Peraí, mulher, fala o que tá havendo, se quiser eu passo aí e digo que tenho que te entregar umas fichas.

- De jeito nenhum! Tô cansada agora. Não posso receber NINGUÉM!

- Tá bom, amanhã conversamos.


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No outro dia cedo, Laura estava me esperando no estacionamento do subsolo. 

- FUDEU! Ela disse. Maitê tava mexendo no meu celular e viu a porra da foto!!!.
- Calma!! Que foto?
- A merda que eu te mandei em que eu tô pelada!!, Ai meu deus, e ela sabe que a foto foi mandada pra você! Entendeu o problema? Ela viu uma foto da mãe pelada pro tio Lopez!!!
- Puta merda!!! Quer mandar essas fotos, coloca pra que só abra uma vez!!! 

- Drinha me disse que tava tendo alguma coisa errada na sua casa. Tiago comentou que te viu brigando com Maitê. Será que ele já sabe?
- Não, minha filha não falou nada. Ela tá triste, querendo ir pra casa dos pais de Tiago. Parece que Maya não sabe ainda.

- Laura, tem uma coisa que eu queria te dizer faz tempo, vou aproveitar que estamos na merda e despejar logo. Lembra da nutróloga? Ela era uma acompanhante que estávamos ajeitando pra Tiago, no dia combinado o bababca do seu marido bebeu demais e deu um tapa na moça. E eu, o mongol que sou, acabei me envolvendo com ela. \E agora eu tô namorando uma puta. Quer dizer, não sei mais.

- Rá! Que maravilha!!! Eu sempre soube que você acobertava ele. Foi por isso que eu fiquei com você. Sim resolvi descontar! Sabe aquela sensação de controle? Recuperei isso nas últimas semanas! E agora você colocou a cereja no bolo. Você tá namorando a puta que ia ficar com o Tiago… Ah, se eu não tivesse tão nervosa eu iria rir pra caramba!!!!

- Para de gritar Laura, tem gente vendo isso! Tá vendo a Inácia tá paradinha no carro dela com o vidro aberto.
- E daí, que se foda! Tô é preocupada com o que minha filha tá pensando. Ela eu sei que amo. Será que ela ainda vai me amar? Com certeza do tio Lopez ela não vai mais querer saber. Não é hipocrisia, apesar de ter traído o Tiago, eu não deixo de pensar no quanto eu investi no casamento. Quando eu quis me separar, eu fiquei grávida, grávida de gêmeas. Eu olhava aquelas meninas que precisavam tanto de mim e do pai. Jurei que iria aguentar, eu tentei, você sabe disso! Aguentei toda aquela porcaria de traição. Tem uma hora que sexo é irrelevante no relacionamento. Eu tava feliz em poder criar as filhas, mas eu cansei, dá pra entender? Eu cansei daquilo tudo…
Nunca tinha visto Laura daquele jeito. Acocorada, quase em posição fetal, chorando e soluçando. Não sou santo, aliás, ninguém é. Mas juro que essa foi a maior merda que eu me meti. Não considerei as meninas, não considerei Laura e muito menos o que eu sinto por Jo.

O dia inteiro as únicas coisas que eu via era como o povo do trabalho olhava pra gente, e claro, alguma mensagem de Jo que pudesse me tirar desse inferno!


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Com o passar dos dias ficou claro que apesar da aparente tranquilidade, nada mais seria igual. Tiago ainda ficava me chamando pra ser álibi. Não sei se ele sabe o que aconteceu e sinceramente, acho melhor assim. Laura está aqui, sutilmente indiferente a tudo, trabalhando mais do que nunca. Se esconder na eficiência é um clássico, tudo pode ir mal, menos aquilo que eu faço. No fundo eu torço pra que de algum jeito mágico, Maitê não saia dessa muito ferida. Ela é a vítima de tudo. A bola de merda explodiu na frente dela.Tudo isso por causa de satisfação rápida e impulsiva. Se coragem fosse xarope, acho que seria melhor. Mesmo no impulso eu sei se é certo ou errado. O foda-se é consciente. Podemos não saber quão longe a merda vai feder. Mas escolhemos assim. Não temos coragem de dizer não, pra agradar um amigo, manter uma posição social, negar o imediato não é a realidade. Todos reagem, tem gente que fala que tudo se resume a amor. Deus é Amor. Mataram o filho dele numa cruz. Tem uma música que fala que todo mundo quer amor, uma pessoa boa quer amor, uma pessoa má quer amor. Mas o que se faz quando se ganha aquilo que se quer? Será que percebemos o tal amor?



Fazer lama


Barreiras realmente não foi a melhor opção. Vim para Porto Seguro. Há alguns meses que estou aqui. Meu plano é morar no Arraial d’Ajuda. Mas vou me virando. Apesar de quente, talvez até mais do que lá, o clima é legal. Um tipo de baiano diferente mora aqui. Acho que tem muito contato com mineiro e capixaba. A cidade tem gente de todo lugar, as praias são boas. Tudo é caro. O calor daqui me fez perceber que o inferno de Salvador não é o calor, o inferno lá era eu quem fazia. Retomei o contato com Laura, na verdade estou retomando. Ela separou de Tiago, Maitê ficou com ele. Até hoje não sei se Tiago soube. Ele me mandou uma foto com Maitê nos ombros dizendo “Minha predileta”. Lissandra sempre conversa comigo. Todo dia trocamos alguma mensagem, mesmo que sejam aquelas imagens de passarinho, ou cachoeira com algum salmo e um bom dia enorme.

Eu estou bem, considerando tudo o que perdi. Mas ganhei algo em troca também. Já sei esperar, acho que faço bons julgamentos de caráter, principalmente o meu.

Estou no meu lugar predileto daqui. O cais. Daqui eu vejo à minha direita o Arraial d’Ajuda, de lá sai uma formação de recifes que protege a cidade do mar bravo, uma barreira natural que se assemelha a um porto. Todo dia eu sento aqui e bebo uma cerveja. É, voltei a beber, só porque consegui controlar meu peso, emagreci uns 8 kg. Tô sozinho, e estou curtindo isso. Claro que já fiquei com alguém. Demorou pra acontecer,  também eu sempre ficava procurando uma asiática esguia com cabelos longos e repicados nas pontas, mas eu nunca encontrava. Não tô com pressa. Às vezes eu vejo seus stories, às vezes ela vê os meus. Acabei vivendo minha versão da música de Marisa, eu fui e fiz lama, muita lama.


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Era sábado e eu tava em um inferninho de Trancoso, estava conversando com Samara, uma professora que conheci.

- Então seu nome mesmo não é Lopez. 

- Como você sabe? 

- Ah, tá escrito no seu cartão de crédito. Na última vez que saímos eu vi escrito. 

- É, meu nome é Amado. Mainha adora o Jorge, López veio com meu pai, ele é mexicano. 

O papo fluiu por horas, muitas risadas, era a quarta ou quinta vez que saímos juntos, mas sozinhos foi a primeira. -Vou te chamar de Amado! Tá decidido! 

- Ok! Me chamar é o que importa, Seu nome não é Samarina não né
Ela riu da piada besta, bom sinal. Estávamos bem pertinho, meus lábios roçando suas bochechas e o celular fez um bip. No resumo da mensagem tá escrito. Oi Lion Man.